TIR: A métrica essencial para avaliar rentabilidade em obrigações

Por que a Taxa Interna de Retorno é sua aliada em investimentos de renda fixa?

Quando se trata de escolher entre diferentes opções de investimento em títulos, muitos investidores cometem o erro de focar apenas na percentagem do cupão. No entanto, existe uma ferramenta muito mais poderosa que nos permite comparar objetivamente a verdadeira rentabilidade: a TIR ou Taxa Interna de Retorno.

A razão é simples mas crucial: um título com um cupão de 8% pode ser menos rentável do que um que paga 5%, dependendo do preço a que o adquirirmos. Aqui é onde entra em jogo a fórmula da TIR, que nos fornece a rentabilidade real considerando tanto os cupons como o ganho ou perda por compra a diferentes preços em relação ao valor nominal.

O que é exatamente a Taxa Interna de Retorno?

A TIR é uma taxa de juro expressa em percentagem que sintetiza a rentabilidade total de um investimento. No contexto de títulos de dívida, representa o retorno real que obteremos se mantivermos o título até ao seu vencimento.

Esta rentabilidade provém de duas fontes distintas:

Fluxos periódicos de cupons: São os pagamentos que o emissor realiza durante a vida do título, geralmente anuais, semestrais ou trimestrais. Alguns títulos, denominados títulos zero-cupão, não geram estes pagamentos.

Diferença de preço na reversão ao nominal: Quando adquirimos um título no mercado secundário, o seu preço pode estar abaixo (abaixo do par), igual (ao par) ou acima (sobre o par) do seu valor nominal. Esta diferença realiza-se no vencimento, impactando significativamente na nossa rentabilidade total.

Como funcionam os títulos ordinários

Para compreender a importância de calcular a TIR corretamente, é essencial entender como se comportam estes instrumentos. Um título ordinário tem características simples: um vencimento definido, um valor nominal estabelecido e pagamentos periódicos de juros fixos.

Na altura da compra, adquirimos o título por certo preço. Durante a sua vida, recebemos cupons regularmente. Finalmente, no vencimento, o emissor devolve o nominal mais o último cupão.

O que é crucial aqui é que o preço de compra pode diferir do nominal. Se comprarmos a 105€ um título que no vencimento vale 100€, temos uma perda garantida de 5€. Esta perda reduz diretamente a nossa rentabilidade real, o que se reflete numa TIR inferior ao cupão nominal.

Por outro lado, se adquirirmos o mesmo título a 95€ e no vencimento nos devolvem 100€, ganhamos 5€ adicionais que se somam aos cupons, elevando a TIR acima do cupão nominal.

TIR vs. TIN, TAE e Juros Técnicos: Diferenças críticas

É fundamental não confundir estas métricas, pois cada uma mede aspetos distintos:

TIR (Taxa Interna de Retorno): Reflete a rentabilidade real de um título considerando o preço de compra atual, os cupons a receber e o preço de reembolso no vencimento.

TIN (Tipo de Juros Nominal): É simplesmente o tipo de juro acordado sobre a quantia estipulada, sem incluir despesas ou comissões adicionais.

TAE (Taxa Anual Equivalente): Incorpora custos adicionais além do juro nominal. Por exemplo, numa hipoteca podemos ter um TIN de 2% mas uma TAE de 3,26% porque inclui comissões, seguros e outros conceitos. É a ferramenta recomendada por organismos reguladores para comparar ofertas de financiamento.

Juros Técnicos: Utilizado principalmente em produtos de seguros, inclui custos específicos como o seguro de vida subjacente ao produto.

A importância prática da TIR em decisões de investimento

Ao selecionar títulos para a nossa carteira, a TIR permite-nos identificar oportunidades que poderiam passar despercebidas se apenas olhássemos para o cupão.

Imaginemos dois títulos: o título A oferece um cupão de 8% mas a sua TIR é de 3,67%, enquanto que o título B tem um cupão de 5% com uma TIR de 4,22%. Se apenas olharmos para o cupão, escolheríamos A. Mas a TIR mostra-nos claramente que B é mais rentável.

Por que acontece isto? Geralmente porque o título A negocia-se significativamente acima do par, o que penaliza a nossa rentabilidade no vencimento quando recuperarmos apenas o valor nominal.

Cálculo da TIR: Fórmula e exemplos práticos

A fórmula da TIR expressa-se matematicamente como:

P = C/(1+TIR)¹ + C/(1+TIR)² + … + (C+N)/(1+TIR)ⁿ

Onde P é o preço atual do título, C representa o cupão periódico, N é o valor nominal e n é o número de períodos até ao vencimento.

Embora a fórmula pareça complexa, felizmente existem calculadoras online especializadas que nos evitam realizar estes cálculos manualmente.

Caso prático 1: Título comprado abaixo do par

Consideremos um título que se negocia a 94,5€, paga um cupão anual de 6% e vence em 4 anos. Aplicando a fórmula, obtemos uma TIR de 7,62%.

Observamos que a TIR supera o cupão nominal graças ao preço de compra vantajoso. A diferença entre pagar 94,5€ e receber 100€ no vencimento amplifica a nossa rentabilidade.

Caso prático 2: Título comprado acima do par

O mesmo título, mas agora cotado a 107,5€. Ao aplicar o cálculo, a TIR resulta em 3,93%.

Neste cenário, pagamos um sobrepreço que reduz significativamente a nossa rentabilidade. Embora os cupons anuais continuem a ser de 6%, o facto de recuperar apenas 100€ dos 107,5€ investidos erosiona a rentabilidade até quase à metade.

Fatores que modificam o resultado da TIR

Entender que variáveis influenciam a TIR permite fazer estimativas rápidas sem necessidade de cálculos complexos:

Cupão: Uma relação direta existe entre o nível do cupão e a TIR. Cupons mais altos geram TIR mais altas, e vice-versa.

Preço de compra: Este é provavelmente o fator mais determinante. Comprar abaixo do par aumenta a TIR, enquanto comprar acima do par a reduz.

Características especiais do título: Certos títulos respondem de forma particular a fatores externos. Os títulos conversíveis veem a sua TIR afetada pela evolução do ativo subjacente, enquanto que os FRN ou títulos ligados à inflação variam com estes indicadores económicos.

Considerações finais: TIR e risco de crédito

Embora a TIR seja uma métrica inestimável, nunca deve ser o único critério de seleção. A qualidade de crédito do emissor é igualmente importante.

Um exemplo instrutivo é a crise grega durante o Grexit, quando os títulos gregos a 10 anos atingiram rentabilidades superiores a 19%. Este valor extremamente alto não refletia uma oportunidade de investimento, mas o risco massivo de incumprimento. Apenas a intervenção da Zona Euro evitou que a Grécia declarasse o default da sua dívida.

Por isso, a prática correta é usar a TIR como ferramenta fundamental para comparar rentabilidades, mas sempre contextualizando-a dentro da realidade de crédito e macroeconómica do emissor do título.

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