Quando queres investir numa ação, tens à tua disposição três lentes diferentes para a avaliar. Cada uma conta uma história distinta sobre o mesmo ativo. Neste guia prático, mostraremos como funcionam o valor nominal, o valor contabilístico e o valor de mercado, quando confiar em cada um e onde estão as suas armadilhas.
Por que existem três formas de valorar uma ação?
Tudo surge de uma pergunta fundamental: Qual é o preço “real” de uma ação? A resposta depende de qual aspecto queres analisar.
Uma ação não tem um único valor verdadeiro. O valor nominal diz-te onde tudo começou. O valor contabilístico mostra-te o que está por trás nos livros. O valor de mercado reflete o que o mercado está disposto a pagar neste momento. São complementares, não concorrentes.
O valor de mercado: O que vês na tua tela todos os dias
Comecemos por onde a maioria dos investidores passa o tempo: o preço de negociação diário, conhecido como valor de mercado.
O valor de mercado é simplesmente o resultado do encontro entre compradores e vendedores. Se mais gente quer comprar do que vender, o preço sobe. Se acontece o oposto, desce. Nada mais, nada menos.
Como se calcula:
Valor de Mercado = Capitalização bolsista ÷ Total de ações emitidas
Exemplo prático:
Imagina uma empresa cotada com capitalização bolsista de 6.940 milhões de euros e 3.020.000 ações emitidas. O valor de mercado seria:
Valor de Mercado = 6.940.000.000 € ÷ 3.020.000 = 2,298 € por ação
Este é o número que verás a piscar na tua plataforma de trading durante os horários de negociação.
Quando usar este valor:
É a tua bússola operacional diária. Se colocas uma ordem de compra, a referência é o valor de mercado. Se queres usar ordens limitadas (comprando só se cair até certo preço), o valor de mercado é o teu limite.
A sua principal fraqueza:
O valor de mercado reflete muito mais do que a saúde financeira da empresa. Reflete opinião, especulação, notícias geopolíticas, mudanças nas taxas de juro, euforia setorial ou pânico coletivo.
Se o banco central anuncia um endurecimento da política monetária, todas as ações caem, mesmo que individualmente sejam empresas sólidas. Se há um anúncio importante no setor, a tua ação rebenta embora os números não tenham mudado. O valor de mercado é volátil, por vezes desconectado da realidade operacional.
O valor contabilístico: O que diz a contabilidade da empresa
Agora mudamos de perspetiva. Se o valor de mercado é “o que o mercado acha que vale”, o valor contabilístico é “o que a contabilidade diz que vale”.
Como se calcula:
Valor Contabilístico = (Ativos - Passivos) ÷ Total de ações emitidas
Em outras palavras: o património líquido dividido pelo número de ações.
Exemplo ilustrativo:
Uma empresa tem:
Ativos: 7.500.000 €
Passivos: 2.410.000 €
Ações emitidas: 580.000
Valor Contabilístico = (7.500.000 € - 2.410.000 €) ÷ 580.000 = 8,775 € por ação
Para que serve:
É a ferramenta favorita dos investidores value, aqueles que seguem a máxima de Warren Buffett: “comprar boas empresas a bom preço”. Estes investidores comparam o valor de mercado com o valor contabilístico usando o rácio Preço/Valor Contabilístico (P/VC).
Se uma ação cotiza a 5 € e o seu valor contabilístico é 8 €, o rácio P/VC é 0,625. Isso significa que estás a pagar 62,5 cêntimos por cada euro de património líquido. Em teoria, é barato.
Imagina dois gasistas no IBEX 35. Comparando os seus rácios P/VC, poderias identificar qual oferece melhor relação preço-património. Aquele com o rácio mais baixo estaria “mais barato” face ao seu valor em livros.
As suas limitações importantes:
A contabilidade nem sempre reflete a realidade: As armadilhas contabilísticas existem. Uma empresa pode maquilhar os seus números.
Não funciona bem com tecnológicas nem pequenas empresas: As startups têm ativos intangíveis (patentes, talento, marca) que não aparecem corretamente nos livros, pelo que o seu valor contabilístico subestima o seu valor real.
As pequenas capitalizações e as empresas com muitos ativos intangíveis geram ineficiências: O valor contabilístico simplesmente não captura o seu verdadeiro potencial.
O valor nominal: O ponto de partida esquecido
Por último, está o valor nominal. É o menos utilizado no trading diário, mas tem o seu lugar.
Como se calcula:
Valor Nominal = Capital social da empresa ÷ Total de ações emitidas
Exemplo:
Uma empresa tem capital social de 6.500.000 € e emite 500.000 ações.
Valor Nominal = 6.500.000 € ÷ 500.000 = 13 € por ação
Este era o preço inicial quando a empresa colocou essas ações no mercado.
Por que importa pouco na renda variável:
O valor nominal tem vigência muito breve. É fixado no momento de emissão e depois perde relevância porque as ações não têm vencimento. Não é como os títulos, onde o nominal determina quanto te devolvem no vencimento.
Onde aparece o valor nominal agora:
Nos títulos convertíveis. Quando investes num título convertível, recebes juros periódicos e, no vencimento, tens a opção de converter o teu título em ações a um preço pré-definido. Esse preço de conversão funciona como um “valor nominal” de referência, embora se calcule com uma fórmula mais complexa (normalmente uma percentagem do preço médio da ação num período determinado).
Comparação prática: Quando usar cada um
Investimento a longo prazo estilo value investing:
Prioridade: Valor contabilístico vs. valor de mercado
Pergunta-chave: A ação está barata comparada com o sua património?
Ferramenta: Rácio P/VC
Trading operacional diário:
Prioridade: Valor de mercado
Pergunta-chave: A que preço entro e a que preço saio?
Ferramenta: Ordens limitadas baseadas no preço de mercado
Análise de convertíveis:
Prioridade: Valor nominal do título + possibilidade de conversão
Pergunta-chave: A que preço posso converter e qual será o valor da ação então?
O que deves saber sobre as limitações de cada método
Limitações do valor nominal:
Tem um percurso interpretativo muito curto
Quase não aporta valor na operação de trading moderna
Só é relevante no momento da emissão
Limitações do valor contabilístico:
Vulnerável a práticas contabilísticas criativas (o que se conhece como contabilidade criativa)
Ineficiente para valorar tecnológicas, startups e empresas com ativos intangíveis relevantes
Pode não refletir a verdadeira posição financeira nestes setores
Limitações do valor de mercado:
Altamente influenciado por fatores alheios à empresa: decisões de política monetária, notícias geopolíticas, mudanças nas expectativas económicas
Suscetível a euforia irracional em setores inteiros
Pode sobrevalorizar ou subvalorizar eventos, distorcendo a realidade financeira
Reflete especulação presente e futura, não só a realidade operacional atual
Tabela de referência rápida
Método
Fonte de dados
O que te diz
Quando usá-lo
Principal fraqueza
Valor Nominal
Capital social ÷ Ações emitidas
Preço inicial de emissão
Principalmente em títulos convertíveis
Pouco uso na renda variável, vigência muito curta
Valor Contabilístico
(Ativos - Passivos) ÷ Ações emitidas
Património líquido por ação segundo os livros
Selecionar ações subvalorizadas, value investing
Não funciona bem com tecnológicas nem small caps, vulnerável a truques contabilísticos
Valor de Mercado
Capitalização bolsista ÷ Ações emitidas
Preço que o mercado paga neste momento
Operação diária, estabelecer entrada/saída
Influenciado por especulação, mudanças macroeconómicas, não reflete valor intrínseco
O contexto é tudo
Aqui está a verdade incómoda: nenhum destes valores é “correto” em absoluto. Todos são ferramentas incompletas.
Um bom investidor não se apega a uma única métrica. Não investes só porque o rácio P/VC seja baixo. Não vendes só porque o valor de mercado caiu 5%. Não confundes correlação com causalidade.
O que fazem os investidores experientes é triangular informação. Observam o valor contabilístico para identificar se a empresa tem bases sólidas. Monitorizam o valor de mercado para oportunidades operacionais. Contextualizam ambos dentro do setor, da economia e das notícias específicas do mercado.
O investimento exige interpretação, não só leitura de números. Aqui é onde a experiência, a educação financeira contínua e a análise fundamental jogam o seu papel. Cada valor dá-te uma pista; o teu trabalho é conectar todas as pistas.
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Três formas de analisar uma ação: Como o valor nominal, contábil e de mercado ajudam você a investir melhor
Quando queres investir numa ação, tens à tua disposição três lentes diferentes para a avaliar. Cada uma conta uma história distinta sobre o mesmo ativo. Neste guia prático, mostraremos como funcionam o valor nominal, o valor contabilístico e o valor de mercado, quando confiar em cada um e onde estão as suas armadilhas.
Por que existem três formas de valorar uma ação?
Tudo surge de uma pergunta fundamental: Qual é o preço “real” de uma ação? A resposta depende de qual aspecto queres analisar.
Uma ação não tem um único valor verdadeiro. O valor nominal diz-te onde tudo começou. O valor contabilístico mostra-te o que está por trás nos livros. O valor de mercado reflete o que o mercado está disposto a pagar neste momento. São complementares, não concorrentes.
O valor de mercado: O que vês na tua tela todos os dias
Comecemos por onde a maioria dos investidores passa o tempo: o preço de negociação diário, conhecido como valor de mercado.
O valor de mercado é simplesmente o resultado do encontro entre compradores e vendedores. Se mais gente quer comprar do que vender, o preço sobe. Se acontece o oposto, desce. Nada mais, nada menos.
Como se calcula:
Valor de Mercado = Capitalização bolsista ÷ Total de ações emitidas
Exemplo prático:
Imagina uma empresa cotada com capitalização bolsista de 6.940 milhões de euros e 3.020.000 ações emitidas. O valor de mercado seria:
Valor de Mercado = 6.940.000.000 € ÷ 3.020.000 = 2,298 € por ação
Este é o número que verás a piscar na tua plataforma de trading durante os horários de negociação.
Quando usar este valor:
É a tua bússola operacional diária. Se colocas uma ordem de compra, a referência é o valor de mercado. Se queres usar ordens limitadas (comprando só se cair até certo preço), o valor de mercado é o teu limite.
A sua principal fraqueza:
O valor de mercado reflete muito mais do que a saúde financeira da empresa. Reflete opinião, especulação, notícias geopolíticas, mudanças nas taxas de juro, euforia setorial ou pânico coletivo.
Se o banco central anuncia um endurecimento da política monetária, todas as ações caem, mesmo que individualmente sejam empresas sólidas. Se há um anúncio importante no setor, a tua ação rebenta embora os números não tenham mudado. O valor de mercado é volátil, por vezes desconectado da realidade operacional.
O valor contabilístico: O que diz a contabilidade da empresa
Agora mudamos de perspetiva. Se o valor de mercado é “o que o mercado acha que vale”, o valor contabilístico é “o que a contabilidade diz que vale”.
Como se calcula:
Valor Contabilístico = (Ativos - Passivos) ÷ Total de ações emitidas
Em outras palavras: o património líquido dividido pelo número de ações.
Exemplo ilustrativo:
Uma empresa tem:
Valor Contabilístico = (7.500.000 € - 2.410.000 €) ÷ 580.000 = 8,775 € por ação
Para que serve:
É a ferramenta favorita dos investidores value, aqueles que seguem a máxima de Warren Buffett: “comprar boas empresas a bom preço”. Estes investidores comparam o valor de mercado com o valor contabilístico usando o rácio Preço/Valor Contabilístico (P/VC).
Se uma ação cotiza a 5 € e o seu valor contabilístico é 8 €, o rácio P/VC é 0,625. Isso significa que estás a pagar 62,5 cêntimos por cada euro de património líquido. Em teoria, é barato.
Imagina dois gasistas no IBEX 35. Comparando os seus rácios P/VC, poderias identificar qual oferece melhor relação preço-património. Aquele com o rácio mais baixo estaria “mais barato” face ao seu valor em livros.
As suas limitações importantes:
O valor nominal: O ponto de partida esquecido
Por último, está o valor nominal. É o menos utilizado no trading diário, mas tem o seu lugar.
Como se calcula:
Valor Nominal = Capital social da empresa ÷ Total de ações emitidas
Exemplo:
Uma empresa tem capital social de 6.500.000 € e emite 500.000 ações.
Valor Nominal = 6.500.000 € ÷ 500.000 = 13 € por ação
Este era o preço inicial quando a empresa colocou essas ações no mercado.
Por que importa pouco na renda variável:
O valor nominal tem vigência muito breve. É fixado no momento de emissão e depois perde relevância porque as ações não têm vencimento. Não é como os títulos, onde o nominal determina quanto te devolvem no vencimento.
Onde aparece o valor nominal agora:
Nos títulos convertíveis. Quando investes num título convertível, recebes juros periódicos e, no vencimento, tens a opção de converter o teu título em ações a um preço pré-definido. Esse preço de conversão funciona como um “valor nominal” de referência, embora se calcule com uma fórmula mais complexa (normalmente uma percentagem do preço médio da ação num período determinado).
Comparação prática: Quando usar cada um
Investimento a longo prazo estilo value investing:
Trading operacional diário:
Análise de convertíveis:
O que deves saber sobre as limitações de cada método
Limitações do valor nominal:
Limitações do valor contabilístico:
Limitações do valor de mercado:
Tabela de referência rápida
O contexto é tudo
Aqui está a verdade incómoda: nenhum destes valores é “correto” em absoluto. Todos são ferramentas incompletas.
Um bom investidor não se apega a uma única métrica. Não investes só porque o rácio P/VC seja baixo. Não vendes só porque o valor de mercado caiu 5%. Não confundes correlação com causalidade.
O que fazem os investidores experientes é triangular informação. Observam o valor contabilístico para identificar se a empresa tem bases sólidas. Monitorizam o valor de mercado para oportunidades operacionais. Contextualizam ambos dentro do setor, da economia e das notícias específicas do mercado.
O investimento exige interpretação, não só leitura de números. Aqui é onde a experiência, a educação financeira contínua e a análise fundamental jogam o seu papel. Cada valor dá-te uma pista; o teu trabalho é conectar todas as pistas.