O Automated Market Maker (AMM) é uma das principais inovações da DeFi, substituindo o livro de ordens tradicional por fórmulas matemáticas. O desenvolvimento dos AMMs foi gradual, com três gerações principais, cada uma buscando solucionar os desafios de eficiência de capital da anterior.
A primeira geração inaugurou a era DeFi pela simplicidade, mas limitações de design impediram maior profissionalização. Protocolos como Uniswap V2 e Raydium (Legacy) são exemplos. O núcleo é a fórmula do produto constante x \ y = k, ou seja, o produto das quantidades de ativos x e y no pool permanece constante em k*.
O principal recurso desse AMM é o market making passivo. A liquidez é distribuída teoricamente por toda a faixa de preço de 0 a ∞, garantindo liquidez em qualquer ponto. O custo é profundidade extremamente baixa e eficiência de capital reduzida — a maior parte do capital fica alocada em faixas de preço distantes do valor real de negociação, praticamente “adormecida”.
Por exemplo, em um pool SOL/USDC, mesmo que o preço do SOL seja 150 USDC, grande parte dos fundos é alocada em pontos como 1 USDC ou 1.000 USDC por SOL, que dificilmente serão negociados. É como uma loja com prateleiras cheias de bebidas de 1 a 1.000 yuans, mas os clientes só compram uma ou duas — a maior parte do estoque nunca será vendida.
Além disso, os provedores de liquidez (LPs) enfrentam risco elevado de IL. As taxas de negociação geralmente não cobrem a IL, então LPs dependem de recompensas em tokens para compensar perdas com variações de preço dos ativos.
Para melhorar a eficiência de capital, a segunda geração introduziu a liquidez concentrada, exemplificada pelo Uniswap V3. LPs podem alocar capital em faixas de preço personalizadas (ex.: apenas quando ETH está entre 2.900 e 3.000 USDC), proporcionando profundidade muito superior ao CPMM na faixa alvo. Essa inovação foi um divisor de águas — o Uniswap V3 foi comparado ao “momento iPhone” da DeFi, tornando-se referência em liquidez.
Contudo, o CLMM transfere toda a responsabilidade de gestão aos LPs. Eles devem agir como profissionais, prevendo preços e ajustando faixas manualmente. Se o preço sai da faixa, a posição do LP vira 100% para um único ativo, deixando o modo market making até o preço retornar ou a faixa ser redefinida.
Isso gera uma experiência fragmentada: gestores ativos e profissionais aproveitam altos retornos, enquanto usuários comuns enfrentam carga de gestão ou riscos elevados e retornos menores por configurações inadequadas. O CLMM aumenta a eficiência de capital, mas aprofunda a distância entre profissionais e amadores.
Nas duas primeiras gerações, Ethereum e Uniswap lideraram. Na terceira, Solana — com alta TPS, baixas taxas e intensa atividade on-chain — tornou-se ambiente ideal de testes. Essa geração leva a gestão de liquidez ao limite, permitindo ajustes de preço em milissegundos, comparáveis à eficiência das CEXs.
Graças à Solana — alta TPS, baixas taxas e ambiente de alto volume — os AMMs evoluíram para dois ramos:
(1) Ramo A: Ativo público (DLMM), representado pela Meteora. A liquidez é discretizada em “bins de preço” interligados. É transparente, permissionless, e acessível a usuários de varejo, que podem gerenciar posições via estratégias algorítmicas integradas. Tecnicamente, o DLMM é evolução do CLMM, otimizada para blockchains de alto desempenho.
(2) Ramo B: Institucional privado (Prop AMM / Dark Pools), representado por Humidifi e Tessera V. Nos Prop AMMs, os LPs são formadores de mercado profissionais. Esses sistemas são black-box, não usam a fórmula on-chain x \ y = k* para precificação. Utilizam oráculos externos e algoritmos internos, mapeando lógica de CEX para a blockchain, buscando máxima qualidade de execução.
Em resumo, AMMs evoluíram de liquidez fina em todos os lugares para liquidez profunda onde é mais necessária. Prop AMMs são novo marco, entregando market making profissional on-chain com capital institucional.
Prop AMMs marcam mudança estratégica no market making on-chain — de modelos matemáticos para lógica profissional. Trazem mesas de negociação de alta performance para o on-chain, aproveitando a baixa latência da Solana para executar trades em alta frequência e baixo slippage.
Prop AMMs são ambientes on-chain onde a liquidez é controlada por formadores de mercado profissionais, algoritmos de precificação não são públicos (ou parcialmente off-chain), e geralmente não há frontend. Por serem opacos, são chamados de Dark AMMs ou Market Makers Privados. Exemplos na Solana: HumidiFi, Tessera V, GoonFi, ZeroFi, SolFi.
I. Volume dos Prop AMMs na Solana
O termo “proprietário” define como o AMM opera:
(1) Fundos Proprietários: A liquidez é 100% fornecida pela equipe ou market makers profissionais (muitas vezes, a equipe tem histórico de market making). Não aceitam depósitos públicos, rompendo o modelo DeFi tradicional de liquidez de varejo.
(2) Estratégias Proprietárias: As estratégias de negociação — cotação, cancelamento, hedge — são segredo comercial. Não estão em smart contracts públicos. São calculadas off-chain e apenas as instruções finais são enviadas on-chain, como nas mesas proprietárias do mercado financeiro.
Prop AMMs entregam performance on-chain equivalente a CEXs ao combinar computação off-chain de alta performance com execução prioritária on-chain.
Prop AMMs não dependem da razão on-chain dos ativos para precificação. Usam modelo híbrido, separando cálculo de preço e execução:
(1) Computação off-chain — Solver privado como caixa-preta
Ao receber pedido de cotação do Jupiter, o backend do market maker aciona o Solver, que calcula off-chain em milissegundos: obtém preço de referência via oráculos como Pyth, acessando valores de mercado em tempo real de exchanges e market makers institucionais; com o preço do oráculo, o Solver roda seu modelo proprietário para calcular a cotação final, considerando risco de inventário, volatilidade, sentimento, previsão de toxicidade do fluxo de ordens e custos em tempo real; o algoritmo gera cotação determinística com preço, quantidade de tokens e timestamp de validade. Todo o processo ocorre em servidores off-chain, com estratégias e parâmetros privados.
(2) Execução on-chain — liquidação atômica e protegida
Após o cálculo off-chain, o Solver envia a cotação à rede Solana via transação assinada, chamando o smart contract do Prop AMM para atualizar a cotação válida; para priorizar, o protocolo pode pagar taxas mais altas aos validadores Jito, garantindo execução antes das transações comuns e proteção contra arbitragem; após agregadores compararem cotações, se o Prop AMM oferecer a melhor, a negociação é roteada ao contrato, que verifica: se o preço de mercado está dentro da faixa prometida e se o tamanho da operação não excede o valor cotado; se ambos forem atendidos, ocorre a troca de ativos do usuário e do market maker na mesma transação e bloco, com o market maker recebendo o spread e o usuário o ativo — o processo é totalmente bem-sucedido ou revertido, sem estados parciais.
Prop AMMs operam em “modo headless”, acessando usuários apenas via agregadores como Jupiter. Isso cria relação parasitária — o Jupiter busca o melhor preço para cada operação, consultando todas as fontes de liquidez, incluindo Raydium, Orca, Meteora e Prop AMMs.
A competição ocorre no algoritmo de roteamento do Jupiter, em guerra de preços de milissegundos. Para cada cotação, o Prop AMM precisa responder rapidamente. Só se a cotação for igual ou melhor que pools públicos, a negociação é roteada para ele. O design exige máxima eficiência — qualquer erro estratégico ou atraso resulta em perda de tráfego.
Assim, Prop AMMs e agregadores formam relação simbiótica: os primeiros dependem dos segundos para acessar usuários, e os agregadores dos Prop AMMs para preços competitivos.
A gestão de risco dos Prop AMMs atua externamente, com defesa contra MEV e fluxo nocivo, e internamente, transformando IL em risco de inventário gerenciável.
Nos AMMs públicos, a liquidez é passiva e vulnerável a bots MEV. Nos Prop AMMs, a liquidez é ativa e “predadora”. Pagando taxas prioritárias, garantem inclusão de cotações e transações antes dos bots, tornando front-running inviável. O Solver off-chain analisa ordens em tempo real; ordens de arbitragem podem não ser respondidas ou receber cotações amplas e não lucrativas — negando serviço.
Prop AMMs costumam adotar liquidez Just-In-Time (JIT). Após vencer operação via agregador, alocam instantaneamente ativos do próprio cofre na mesma transação ou sequência, retirando imediatamente. Isso minimiza exposição de capital, reduzindo a janela para ataques MEV.
II. Composição de ativos da HumidiFi
Além disso, Prop AMMs têm vantagem sobre LPs tradicionais ao transformar risco de IL. O objetivo não é manter proporção constante de ativos, mas gerar receita via spreads. Flutuações de inventário — como ter mais USDC e menos SOL em mercados de alta — são resultado natural do market making, não “perda”. O conceito de IL torna-se irrelevante, substituído por risco de inventário.
O protocolo gerencia inventário dinamicamente via algoritmo Solver, mantendo-o em faixa alvo. Isso pode envolver hedge ativo ou rebalanceamento externo — se o inventário ficar desbalanceado, a equipe pode fazer hedge em CEX para reequilibrar rapidamente.
O PnL final do protocolo = total de spreads obtidos com market making – variação de valor dos ativos do inventário – custos operacionais.
É um modelo ativo e profissional de lucros e perdas, diferente do IL passivo dos LPs tradicionais.
O crescimento dos Prop AMMs reflete a transformação estrutural do mercado DEX da Solana. Desde o início do ano, o foco da atividade mudou de especulação com memes para pares SOL-Stablecoin. Atualmente, SOL-Stablecoins são responsáveis por 60% a 70% do volume DEX da Solana, criando oportunidade para estratégias de market making ativo.
III. Volume DEX da Solana
Prop AMMs cresceram rapidamente este ano, com vários ultrapassando US$270 bilhões em volume acumulado. Hoje, Prop AMMs respondem por 20% a 40% do volume semanal dos DEXs da Solana.
IV. Solana DEX: Prop AMM vs DEX tradicional (pares SOL-Stablecoin, direita)
Em pares SOL-Stablecoin, Prop AMMs ocupam posição estratégica como camada de execução principal, capturando mais de 80% do market share. Em operações acima de US$100 mil com SOL-Stablecoin, Prop AMMs superam AMMs tradicionais em slippage, pois sua liquidez é modelada em infraestrutura de CEX, não apenas pelo TVL on-chain.
No setor Prop AMM, há diferenças significativas de desempenho devido às estratégias e modelos de gestão de risco.
V. Market share dos Prop AMMs Solana
Desde seu lançamento em junho, HumidiFi tornou-se o maior Prop AMM — e maior DEX — da Solana, sendo o primeiro a superar US$100 bilhões em volume acumulado. Atualmente, HumidiFi mantém volume diário acima de US$1 bilhão, com mais de 60% de participação entre os Prop AMMs.
O diferencial está na competitividade central dos Prop AMMs: número de pares negociados, estratégias proprietárias da equipe e eficácia das curvas de precificação black-box. Minimizar o spread é fundamental.
VI. Pares de tokens ativos nos Prop AMMs
Embora o volume dos Prop AMMs se concentre em pares principais como SOL-Stablecoin, novos protocolos ampliam a cotação para mais ativos de cauda longa, buscando prioridade nos agregadores e mais ordens. Aquifer, lançada em setembro, oferece cotações para 190 pares — mais que todos os outros Prop AMMs juntos. ZeroFi, HumidiFi e AlphaQ expandem para memecoins populares (Fartcoin, USELESS) e ativos cross-chain (MON, ZEC).
Apesar disso, o valor central de um Prop AMM está no spread mínimo e na estabilidade de sua manutenção.
VII. Spread de execução DEX Solana (USDC-WSOL)
Dados do último mês de negociações SOL/USDC mostram que, embora Prop AMMs ofereçam spreads médios menores, apresentam maior risco de cauda — devido à variância interna entre diferentes Prop AMMs. DEXs como Meteora e PancakeSwap têm spreads médios mais altos, mas muito mais estáveis, refletindo infraestrutura técnica e operacional robusta.
No universo Prop AMM, Tessera V e HumidiFi se destacam pela estabilidade do spread. Tessera V mantém spreads em ~2bps e HumidiFi abaixo de 1bps — fator chave para sua liderança. GoonFi e ZeroFi mostram alta volatilidade, com picos acima de 15bps.
A competição no setor Prop AMM está se intensificando. Hoje há pelo menos oito players em estilo dark pool, contra dois no início do ano. A estratégia de lançamento de tokens dos Prop AMMs tornou-se foco de discussão de valuation. HumidiFi, maior dark pool Prop AMM, foi a primeira a lançar token. O lançamento no auge pode garantir valuation e prêmio maiores. Se novos entrantes lançarem tokens antes, isso pode afetar o valor percebido da HumidiFi — por isso, o líder lançar primeiro é estratégia defensiva diante da concorrência.
Porém, o design da tokenomics da HumidiFi — utilidade, mecanismos de valorização e papel no ecossistema — segue indefinido. Essa indefinição é tema central de debate entre comunidade e investidores.
Prop AMMs abandonaram o modelo DeFi inicial de incentivos em tokens e mineração de liquidez, adotando lógica de lucro das finanças tradicionais — HFT e market making profissional. O impacto na Solana é ambivalente.
A sustentabilidade dos Prop AMMs não depende de incentivos externos, mas da eficiência de execução e da gestão de risco avançada.
A principal receita dos Prop AMMs vem dos spreads — diferença entre preço de compra e venda — igual aos market makers em CEXs. Com execução eficiente e hedge ativo, mesmo spreads estreitos podem gerar lucros sólidos com alto volume diário e custos operacionais baixos. Pela opacidade dos Prop AMMs e falta de dados públicos, parte da comunidade questiona se HumidiFi, operando com spreads abaixo de 1bps, gera lucros relevantes.
Para manter preços competitivos nos agregadores, protocolos podem oferecer incentivos — tokens ou fee-sharing — a agregadores ou provedores de fluxo. Isso pode motivar emissão de tokens pelos Prop AMMs.
Em essência, o PnL do protocolo se resume a: receita total de spreads do market making – variação de valor dos ativos do inventário – custos operacionais, formando modelo ativo e profissional de lucros e perdas.
O impacto dos Prop AMMs é complexo — representa mais um trade-off da DeFi entre eficiência e justiça, abertura e opacidade.
Para usuários, Prop AMMs oferecem experiência próxima de CEX: slippage praticamente zero e liquidez profunda, beneficiando grandes traders. Ao transferir o market making dos LPs de varejo para poucos profissionais, a eficiência e precisão de preços aumentam.
Por trás dessa revolução de eficiência e experiência, há desafio sistêmico. Prop AMMs capturam maiores volumes e spreads mais lucrativos nos pares principais. Ao expandir cobertura, reduzem ganhos dos LPs tradicionais em pools públicos como Raydium e Orca. Se tráfego e receita migrarem, pools públicos encolhem, restritos a ativos de cauda longa ou condições extremas, corroendo princípios de abertura e permissão da DeFi.
A opacidade dos Prop AMMs está na ausência de frontend e anonimato das equipes. Se liquidez e poder de preço se concentrarem em mãos institucionais ou anônimas, podem surgir novos pontos centralizados de controle. Falhas estratégicas, bugs ou má conduta podem causar disrupções on-chain. Além disso, a DeFi depende de composabilidade. Interfaces fechadas e lógica dinâmica dos Prop AMMs dificultam integração segura e confiável com outros protocolos — lending, derivativos ou vaults automatizados.
A ascensão dos Prop AMMs é mais que otimização técnica — representa institucionalização e profissionalização do trading on-chain na Solana, simbolizando busca máxima por eficiência de capital.
No futuro, Prop AMMs devem servir como formadores de mercado profissionais da Solana como “CEX on-chain”. Seu surgimento conduz a estrutura dos DEXs para o modelo de exchange tradicional — com fluxo de ordens dependente de poucos market makers especializados. Solana evolui para camada transparente de liquidação CEX, e Prop AMMs funcionam como mesas de negociação, entregando menor latência e melhor execução.
Enquanto usuários aproveitam ganhos de eficiência dos Prop AMMs, AMMs públicos são pressionados a inovar — permitindo que LPs comuns acessem estratégias profissionais e automatizadas de market making. Isso pode permitir coexistência de liquidez pública e institucional, sem marginalizar LPs de varejo. Para traders, significa migrar do uso direto de DEXs para depender mais de agregadores, aproveitando slippage mínimo e execução ideal dos Prop AMMs.
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